Histórias dos bastidores do Miss Gay (feat. Dominica)
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Foto: Sextou com Platonyco feat. Dominica, arquivo pessoal, 2020. |
Segundo aquela filósofa
contemporânea Sia, "just another stage Pageant the pain away, This time I'm
gonna take the crown, Without falling down, down, down, Pretty hurts, We shine
the light on whatever's worst Perfection is a disease of a nation, Pretty hurts." Sim, meus
queridos ouvintes, a beleza dói. E é claro que eu não tô falando de mim, mas
estou falando de uma artista, Dj Drag e cantora maranhense. Ela que já participou
de vários concursos, como Miss Brasil Gay, Miss World Gay Brasil e outros,
tendo recebido os títulos de Rainha do Bate Cabelo (2012) e Miss Maranhão Gay
(2014), além de ter estado no programa do Silvio Santos (2017) bebês, entende
muito bem o significado dessa canção interpretada pela maravilhosa Beyoncé.
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Foto: Dominica, arquivo pessoal, 2020. |
Há 13 anos
iniciou como a drag Wanessa Yusly e depois como DJ tornou-se Wanny C, já como
Dominica estreia como cantora e lança a música “Mais que danada”. Conhecida no
cenário LGBTQ, continua apostando no cenário musical e na produção de videoclipes.
No ano passado a artista lançou seu primeiro trabalho audiovisual que hoje jáultrapassa mais de 10 mil visualizações. Com o objetivo de alcançar um público
maior e possibilitar o trânsito em espaços diversos, Dominica mesmo
independente mantem-se focada na criação de novas músicas e videoclipes para
que assim possa apresentar um trabalho versátil que permita a interação de quem
a segue. Sua nova aposta é o seu single chamado Assanhadinha que foi lançado no
dia 06 de fevereiro desse ano. Mermã tô sabendo que tem até videoclipe tá vindo
por aí. Seja bem-vinda Dominica!!!
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Foto: Dominica, arquivo pessoal, 2020. |
Dominica: Oi
gente, tudo bom com vocês? como já foi apresentado eu sou a Dominica, eu espero
que todos estejam bem, estejam em casa. A gente sabe que durante esse momento
que a gente tá passando é importante isso, que a gente mantém esse
distanciamento, mas... eu espero que tudo isso passe, que a gente possa se
encontrar. Quero dizer que é um prazer tá aqui no podcast Sextou com Platônico
e espero que todos vocês consigam entender um pouco mais sobre minha carreira e
eu vou contar alguns segredinhos que poucas pessoas sabem.
Tony: mas e aí
como está o teu processo criativo durante essa quarentena?
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Foto: Dominica, arquivo pessoal, 2020. |
Dominica: Então durante a quarentena eu venho
aprendendo muitas coisas que eu acho que vem me fazendo ser um pouco mais
independente sabe, a gente sabe que quem trabalha com imagem, trabalha com
música sempre precisa tá trazendo novidades e eu sou um artista que eu consigo
fazer um pouquinho de tudo. Eu trabalho com a minha imagem, eu trabalho com as
músicas que eu componho, com as músicas que às vezes até produzo e os vídeos
que eu venho trazendo também no Youtube, então durante a quarentena eu
venho aprendendo a editar vídeos, a tirar fotos, me empenhei bastante pra
melhorar um pouco meus equipamentos de iluminação pra melhorar foto porque hoje
eu consigo ter uma certa “independência” pra tirar uma foto e fazer quem sabe
um vídeo de divulgação sobre algum produto ou material que eu tenha pra
mostrar, pra apresentar, enfim... Sobre o meu trabalho ou então até mesmo sobre
as pessoas que vem fechando comigo, então eu acredito que mesmo sendo tão
difícil tá me mantendo dentro de casa ainda mais que eu sou uma pessoa que ama
rua de verdade tá sendo interessante por esse lado que eu tô conseguindo
aprender muitas coisas.
Tony: mas nos conte um pouco da sua história, fiquei
feliz em saber que compartilhamos do mesmo espaço e do mesmo colégio!
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Foto: Dominica, arquivo pessoal, 2020. |
Dominica: Então
vou tentar resumir um pouco da minha trajetória. Eu tenho 13 anos de carreira, gente,
então é muita coisa já feita, muitas conquistas, muitas decepções. Mas, enfim,
a minha drag saiu da escola, eu participei de uma peça. Nós fizemos uma
peça Uma Outra Linda Quase Mulher porque ela é inspirada nessa
peça que tínhamos aqui no Maranhão chamada Uma Linda Quase Mulher,
inclusive beijos para todos os artistas envolvidos. E a gente fez essa peça no Liceu
(C.E. Liceu Maranhense) e aí as pessoas começaram a falar muito bem - “ai
você ficou ótimo de drag” - eu comecei a me sentir muito bem, sabe? E aí quis expandir
isso. Foi aí que recebi um convite de um amigo para fazer recepção numa boate (pergunta
nome da boate) aí comecei a fazer recepção, passou um tempo fui convidada para
fazer shows. E aí eu quis participar de um concurso chamado Rainha do Bate-cabelo
do Maranhão que foi feito numa antiga boate chamada Gatos e Sapatos. Foi
aí que eu ganhei o concurso em 2013 não teve concurso em 2014 continuei com a
faixa, e aí em 2014 fui consagrada como a rainha do Bate-Cabelo
Norte/Nordeste e por vários motivos eu fui desistindo de fazer show dessa
forma principalmente por conta de que eu me sentia muito mal, torcicolo, sabe?
Pra quem não conhece o que que é “bater cabelo”, pelo amor de Deus, vá lá ver
que é, principalmente no Youtube que tem rainhas maravilhosas fazendo
isso, mas é algo que machuca muito e eu já viajei várias vezes de uma cidade
para a outra com torcicolo e tinha que fazer shows com torcicolo, enfim então
isso pode deixar um pouco... querendo desistir sobre tudo isso que envolvia “bate-cabelo”
. E aí a convite de um amigo eu participei do Miss Maranhão Gay em 2014 e
ganhei. Sou a eterna Miss Maranhão 2014. E em 2014 eu fui para São Paulo
participar do concurso, não foi em 2015 se eu não me engano, não me lembro bem,
em 2015 fui para São Paulo representando o estado do Maranhão pro Miss
Brasil Gay Universo e tinham 24 candidatas e eu fiquei em 6º, então foi
tipo muito importante para mim ter ido porque eu era a primeira candidata
realmente do Maranhão que estava representando o estado, porque a gente sempre
foi representado por outras nesse concurso e outros concursos também. Pouquíssimas
vezes a gente teve representante mesmo do Maranhão, então foi muito importante.
Saindo lá feliz, não com o 6° lugar, mas com a experiência que eu tive me
joguei no concurso chamado Miss Brasil Gay World que foi feito no Ceará.
Tony: nossa
baita responsabilidade levar o nome do nosso estado pra um concurso assim, a
nível nacional. Mas parece que as coisas não deram muito certo quando você
participou desse outro concurso, né.
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Foto: Dominica, arquivo pessoal, 2020. |
Dominica: E ai fui
participar de um concurso chamado Miss Brasil Gay World no Ceará e já
tinham me falado muitas coisas negativas sobre esse concurso, que o concurso
era comprado, que o dono não tinha nenhum respaldo pra estar fazendo o
concurso, que falavam muito mal dele, enfim. E aí eu conversando com ele, foi
super simpático falou para mim que jamais brincaria com sonhos, eu expliquei
muito pra ele que eu tava investindo tudo o que eu tinha nessa época eu
trabalhava com maquiagem e aí a gente sabe que maquiagem às vezes dá e às vezes
não dá. Enfim, fui e todas as vezes que era pra votar pra mim, todas as vezes
que era para selecionar uma candidata pra ir pra próxima etapa eu era sempre a
primeira e aí na hora de decidir entre mim e a pessoa que “ganhou”, eles começaram
a votar nela, só que eu descobri depois que ela tinha confeccionado a faixa do
evento e ao invés de ela escrever World que dá o sentido de “mundo”, ela
escreveu Word e aí na época o boom da história era o Facebook
e o povo começou a falar “miga, só vai ganhar quando for Excel, que é
mais complexo, PowerPoint, PowerPoint, não, Photoshop, Word é
muito fácil...”.
Tony: eu sei
que é errado, mas eu tô rindo. Mas como foi essa transição de Miss para Dj
Drag?
Dominica: Então
ela teve um início de reinado não muito bom. Eu voltei totalmente
desestimulada, mas querendo manter a minha drag viva e amando a noite, porque eu amo a noite,
amo festa, amo gente, eu tive a ideia de aceitar um convite de um amigo meu
chamado Marconi pra ser dj. Ele sempre me falava sobre isso e sempre me
motivava bastante e aí virei dj, entrei nesse mundo porque eu levei
alguns tapas na cara, assim de tipo “sai daí que aí não é o teu lugar”, é muito
difícil, mas é muito interessante pra mim ainda tá fazendo uma drag dj porque
eu invisto bastante, infelizmente a gente não tem o reconhecimento e nem o apoio que a gente
merece, eu falo “a gente” porque drag em si é algo caro e às vezes quem
não faz ganha até muito mais que a a gente e isso desestimula, isso faz com que
a gente desacredite do que a gente realmente quer porque a gente se prepara, a
gente pensa no look tipo muito tempo antes do dia da festa e uma pessoa que não
faz isso, não desmerecendo, mas ela não se preocupa tanto assim como a gente.
Então foram coisas que eu entrei, mas levei muita murada, mas me fez ser forte
pra me manter até aqui, então acredito que hoje eu tenho o meu espaço, hoje eu
posso bater no peito e dizer que muitas vezes eu tentei desistir, mas não
desisti por inspiração a mim mesma porque eu acho que é sempre importante a
gente se inspirar na nossa luta que a gente acredita nos nossos sonhos porque
lá na frente a gente vai ver que foi tudo muito importante para gente.
Tony:
provavelmente você também barreiras nesse novo espaço que se apresentava pra
você, né. Eu digo isso porque muitas pessoas acreditam que o universo Lgbtqi+ é
só flores, close e muito mais pelos estereótipos que são criados pela mídia em
geral em relação à nossa comunidade de que nós não passamos por perrengues.
Dominica: Quebrei
a cara por quê a gente sabe que não é fácil, a gente sabe que vai ter sempre
uma disputa, só que infelizmente eu peguei uma disputa muito sacana, muito
escrota de gente, sabe, falando de péssimas coisas, enfim... graças a Deus a
minha persistência, o meu amor e o meu respeito a minha drag eu me mantive e
hoje tenho muito orgulho de falar que eu tenho meu espaço, que eu conquistei
mesmo com muita gente falando para mim que não era para eu continuar e ainda
mais depois que eu lancei a minha primeira música que quem não conhece gente se
chama Mais Que Danada já tem até clipe, vão lá no Youtube escutar
e eu escutei de uma pessoa que eu não deveria fazer isso porque já tinha gente
fazendo, então isso me deixou muito mal, mas me deu mais forças, sabe, eu me
considero hoje uma artista que tá de pé ainda, que ainda tá lutando, que é
inspiração pra muita gente e isso me deixa muito motivada pra continuar
fazendo. Eu sinto muita preguiça, principalmente nessa época de pandemia, de tá
compondo, mas toda vez que eu penso nessas pessoas, todas as vezes que eu vejo
essas pessoas falando comigo no meu Instagram, mandando uma mensagem, curtindo
as minhas fotos, os meus conteúdos eu fico extremamente feliz e recarregada,
digamos assim. As minhas energias para continuar, então eu quero só agradecer a
todo mundo, a gente sabe que infelizmente, nada, na verdade nem tudo é fácil,
né. Na verdade as coisas sempre são um pouco difíceis para quem tá começando,
mas eu espero que todo mundo que tem um sonho que tem uma vontade de fazer,
acredite primeiramente em si e seja sempre a sua inspiração gente, sempre
acreditem em você e pode não ter ninguém, pode não ter família, pode não ter
amigos, mas se tiver você acreditando no seu trabalho, você vai com certeza
conseguir um dia.
Tony: bom, não
foi à toa que convidei a Dominica aqui, inclusive gostaria de agradecer
imensamente ao Cadimes por ter nos conectado, de certa forma. Mas estamos no
mês do Orgulho LGBTQI+ e quando falamos de orgulho não estamos querendo nos
mostrar melhores que ninguém, pelo contrário é necessário ter muito orgulho pra
passar por diversas dificuldades e se manter de pé como ela, como eu, como você
estamos até aqui. Nós não encontramos o terreno mais receptivo quando queremos
mostrar ao mundo os nossos talentos, a nossa arte, a gente luta cada dia pra
conquistar o nosso espaço e o respeito que não deveria ser algo que deveríamos
exigir, mas estamos numa época em que cada vez mais precisamos defender o
óbvio. Então cabe a nós colocar cada vez nossa cara a tapa, dar a nossa pinta,
o nosso close e mostrar isso tudo com profissionalismo e orgulho. Eu te admiro
muito Dominica e muito obrigado pela tua contribuição. Sucesso, viu?
Dominica: E eu
hoje tô muito feliz de ter participado do podcast, tinha que ter tipo 20 horas
para poder falar um pouco da minha história porque é muita coisa, mas eu espero
que vocês me permitam, quem sabe numa outra breve conversa ou aqui ou então no
meu próprio perfil, vocês permitam me conhecer um pouco mais. Platonyco foi um
prazer, eu amei ter participado, muito obrigado pelo espaço pra atingir uma
galera totalmente diferente ou talvez até uma galera que já me conheça, mas não
sabe que eu já passei por muitas coisas
como nesse caso que eu falei do concurso
e o que me trouxe até aqui, né, largar o mundo de misspra ser hoje dj,
cantora. Então, eu te agradeço muito, sucesso no seu podcast. Eu adorei tá
aqui! Beijos, gente. Fica em casa que tudo isso vai passar logo, tá bom? Vão lá
me seguir no meu Instagram, se inscrever no meu canal do Youtube, acompanhar
meu trabalho, bj!
Tony: A transcrição desse e dos demais episódios você encontra em http://platonyco.com Sexta que vem a gente tem um novo encontro, tô te esperando, cheiro!!
Episódio Anterior - As
Vantagens de Ser Invisível (feat. Luana, Revétria)
Episódio Seguinte - Orgulhar-se: a história do movimento LGBTQIA+ na luta por direitos (feat. Prof. Jefferson Maciel)
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